sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Eu me lembro...


Um dia desses eu vi um filme lindo de Edgar Navarro, chamado “Eu me lembro”, um mergulho numa infância de cidade de interior, cheia de descobertas e brincadeiras e rituais de passagem, típicos de infâncias bem curtidas. Depois chega a adolecência e seus problemas e culpas, e finalmente a juventude, recheada de conflitos, drogas, viagens… E por aí vai. O filme mexeu com minhas lembranças também…
Eu me lembro muito bem das loucuras que vivemos na juventude durante os anos 70. Toda aquela transgressão e rebeldia, mil questionamentos, buscas espirituais, viagens transcendentais, viagens de carona, viagens de ácido, cogumelos, zabumba, ayauasca, são pedro, marijuana e o que pintasse…
Eu me lembro dos banhos de rio, todo mundo nu feito criança, sem maldade nenhuma. Depois todo mundo ia junto ver o pôr do sol, catar cogumelos pelos verdes pastos do fim do mundo…
Eu me lembro de como a gente gostava de ser natureba, comer arroz integral com gersal, sopa de missô e outras delícias da macrô. Se encontrar no Grão de arroz ou no Beco do mingau, só pra jogar conversa fora enquanto tomava um banchá  com pão de centeio.
Eu me lembro de como era gostoso tomar chuva, fazer yoga na praia, vestir uma bata indiana bem fininha e uma calça lee desbotada e bater perna mangueando uns trocados pelas ruas de Salvador, caminhando contra o vento sem lenço sem documento…
Eu me lembro das nossas casas sempre cheias de gente, compatilhando tudo. Casas coloridas, com móbiles e luminárias pendurados, plantas em suportes de macramês, estante de tijolos na sala coberta por esteiras e almofadas bordadas, cheiro de incenso e maconha, quadro de Che e o beijo de Klimt  na parede… Eu me lembro de nossas primeiras casas, lindas …
Eu me lembro também dos amigos que sumiam de repente, numa viagem sem volta pelos porões da ditadura.
Eu me lembro das cores e texturas, e dos cheiros e sabores daquela década lisérgica, psicodélica, subversivamente maravilhosa.
Eu me lembro de tantas coisas incríveis, loucas,  belas e barras que vivemos e que ficaram lá longe, num tempo mágico que povoa nossas memórias, atrás das cortinas diáfanas, iluminadas e coloridas que ornam nossas vidas e  misturam passado, presente, futuro. Nos tornando eternos, doces, bárbaros…

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